RELAÇÃO ENTRE INCONTINÊNCIA URINÁRIA EM MULHERES ATLETAS E DISTÚRBIO ALIMENTAR
As corridas de longa distância, praticadas em vias públicas, incluem: provas de 10 km, meia maratona (21,095km) e maratona (42,195km). Também chamada de “pedestrianismo”, esta modalidade esportiva vem crescendo e atraindo adeptos em todo o mundo.
As distâncias percorridas, assim como as diferenças de superfície e as características da prova, exigem do atleta técnica e estratégias específicas. A biomecânica da corrida de longa distância difere da mecânica das demais provas de corrida.
A incontinência urinária (IU) é definida pela Sociedade Internacional de Continência (ICS) como qualquer perda involuntária de urina.
Estudos mostram que a prevalência da IU durante a prática esportiva nas atletas de elite varia de 0% (golfe) até 80% (trampolinistas). As maiores prevalências ocorrem em esportes que envolvem atividades de alto impacto como: ginástica, atletismo e alguns jogos com bola.
Algumas teorias tentam explicar a ocorrência de IU nas atletas. Uma delas afirma que, embora as atletas tenham os músculos do assoalho pélvico fortes, a atividade física árdua levaria ao aumento da pressão abdominal, predispondo a IU. Outros autores acreditam que estas atletas têm sobrecarga, estiramento e enfraquecimento do assoalho pélvico. Reforça esta teoria o fato de que a força vertical de reação máxima do solo durante diferentes atividades esportivas é três a quatro vezes o peso do corpo quando corremos, cinco a 12 vezes pulando, e nove vezes na queda após um salto em altura.
É fato notório que os distúrbios alimentares em corredoras há muito vêm sendo motivo de pesquisa. O baixo peso corporal é utilizado por alguns atletas como critério para a obtenção de bons resultados em competições. Estas mulheres fazem uso de práticas alimentares inadequadas ou uso indiscriminado de laxantes, diuréticos e drogas anorexígenas. O problema é que a dieta hipocalórica em atletas, além de prejudicar o desempenho físico, está associada à diminuição do pulso e da frequência do hormônio luteinizante, podendo levar a distúrbios menstruais e até amenorreia.
O principal receio dos profissionais que lidam com mulheres atletas é que ocorra uma superposição de distúrbios, culminando na chamada “Tríade da Mulher Atleta” (distúrbio alimentar, amenorréia e osteoporose). Quando este quadro se instala, torna-se imperioso um tratamento multidisciplinar envolvendo psicólogos, médicos, nutricionistas e técnicos, com o objetivo de resgatar a saúde desta paciente e seu desempenho.
Os fatores de risco normalmente relacionados ao aparecimento da IU incluem: fragilidade do tecido conectivo dos músculos pélvicos, gestação, parto vaginal com lesão de nervos periféricos, fáscias e ligamentos, obesidade e idade
avançada. Ainda não se sabe ao certo qual a real causa da IU em mulheres atletas, que normalmente são jovens e nulíparas.
A maioria dos autores acredita que a IU ocorra em esportes de alto impacto (como a ginástica e o trampolim acrobático) ou em esportes com mudança abrupta de movimento (como no basquete). Nestes casos, a fisiopatologia da IU talvez esteja relacionada com o aumento abrupto da pressão abdominal. Entretanto, a corrida de longa distância não apresenta grande impacto ao assoalho pélvico. Assim, talvez a causa da IU nestas atletas esteja relacionada com a fadiga muscular e não com o aumento da pressão abdominal.
Nossos resultados destacam a importância no atendimento diferenciado às mulheres atletas. Este grupo particular pode apresentar afecções clínicas sutis que, muitas vezes, podem passar despercebidas. Médicos, fisioterapeutas, psicólogos e técnicos devem estar cientes da existência de distúrbios alimentares, incontinência urinária e distúrbios menstruais em corredoras de longa distância. Também devem saber diagnosticar as atletas de risco para estas afecções.
Conclusão: Encontrou IU em atletas corredoras de longa distância e houve correlação com distúrbios alimentar. Estas atletas devem ser encaminhadas para uma equipe multidisciplinar para adequar o melhor tratamento sem comprometer o desempenho.
Fonte: Araújo MP, Oliveira E, Zucchi EVM, Trevizani VFM, Girão MJBC, Sartori MGF. Relação entre incontinência urinária em mulheres atletas corredoras de longa distância e distúrbio alimentar. Rev Assoc Med Bras 2008; 54(2): 146-9.