CÂNCER: BENEFÍCIOS DO TREINAMENTO DE FORÇA E AERÓBIO
O câncer é definitivo como um crescimento impulsivo e anormal de células no organismo. O tratamento desta doença envolve a aplicação de quimioterapia isolada ou em combinação com a radioterapia e/ou cirurgia. Em implicação do tratamento a maioria dos pacientes exibe uma série de sintomas e sequelas colaterais secundários, como, por exemplo, náuseas, vômitos, dores, insônia, perda de apetite e fadiga. Esta doença é estimada multifatorial, já que não possui um único fator determinante. Além disso, a inatividade física é considerada um fator de risco para o desenvolvimento do câncer.
Uma recente revisão sistemática conduzida por Cheemaet al. (2007) demostrou que a prática do treinamento de resistido (musculação) combinado com treinamento aeróbio duas a três vezes por semana é seguro e benéfico para mulheres com câncer de mama, resultando em melhoras funcionais, psicológicas e clínicas. Recentemente, o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM), em uma comunicação especial sobre os guias para a prescrição de exercícios em sujeitos sobreviventes do câncer, salientou que o exercício físico é seguro durante e após os vários tipos de tratamento de câncer, inclusive tratamentos intensivos como o transplante de medula óssea.
Efeito do exercício sobre a função cardiorrespiratória
Adamsen et al. (2003) demonstraram aumento da capacidade aeróbia após seis semanas de treinamento de força combinado com exercício aeróbio com intensidade de 60 a 100% da FCmáx em bicicleta ergométrica durante o tratamento de pacientes com diversos tipos de câncer. Backeret al. (2007) evidenciaram que um período de 18 semanas induziu a um aumento do VO2máx, tendo as sessões de treinamento duração de 16 minutos em bicicleta ergométrica na intensidade de 30 a 65% do VO2máx. Corroborando os estudos supracitados, Battagliniet al. (2009) evidenciaram a melhora da capacidade cardiorrespiratória em dez pacientes com leucemia.Diante dos resultados apresentados acima, fica evidente o potencial efeito do exercício físico em melhorar a capacidade aeróbia de pacientes com diversos tipos de câncer durante e após o tratamento.
Efeito do exercício sobre a força muscular
A maioria dos estudos relatou aumento da força muscular avaliada por meio do teste de uma repetição máxima (1RM). Cinco estudos evidenciaram aumento significativo da força muscular após o periodo de treinamento. Adamsen et al. (2003) e Battaglini et al. (2006) demonstraram aumento da força muscular em pacientes com diversos tipos de câncer e câncer de mama, respectivamente.Neste sentido, é possível que a inclusão do treinamento de força na intervenção com exercício resulte em aumento de força em pacientes com câncer.
Efeito do exercício no linfedema
Linfedema é o acúmulo de proteínas em fluidos corporais, caracterizado pelo inchaço nas mãos, braços e peito. É comum em pacientes com câncer de mama (SCHMITZ, 2010). Mckenzie e Kaldar (2003) mostraram que o treinamento de força não modificou a circunferência e volume dos membros superiores em mulheres com linfedema após tratamento do câncer de mama. Nesse sentido, Courneyaet al. (2007) também averiguaram que o exercício não acarretou linfedema. Nesse estudo o programa de treinamento era constituído da combinação dos treinamentos de força e aeróbio, e não foi notado nenhum tipo de adulteração relacionado ao desenvolvimento de linfedema em mulheres com câncer de mama
Efeito do exercício no sistema imune
Fairey et al. (2005) observaram aumento significativo na atividade de células NK (células que possuem ação antitumoral) após um período de treinamento aeróbio de quinze semanas com 70 a 75% do VO2máx.Kelmet al. (2000) investigaram o efeito de um programa de treze semanas de treinamento de força e aeróbio realizado duas vezes por semana em pacientes com câncer submetidos a quimioterapia, e observaram aumento do número de células NK. Essa ativação imunológica foi acompanhada pelo aumento do desempenho físico e força e de melhora na qualidade de vida
Sendo assim, estes resultados devem ser interpretados com cuidado e outras variáveis imunes precisam ser investigadas, como produção de imunoglobulinas, apresentação de antígeno, atividade microbicida, citotoxidade de linfócitos, apoptose, fagocitose e outras.
Efeito do exercício na fadiga
A fadiga é um dos efeitos colaterais mais comumente relatados por pacientes com câncer (DIMEO et al., 1997). Battagliniet al. (2006) encontraram diminuição significativa nos níveis de fadiga após vinte e uma semanas de exercício moderado, realizado duas vezes por semana, em pacientes com câncer de mama após cirurgia
Recomendação para a prescrição de exercícios para pacientes com câncer
A Tabela 1 apresenta algumas sugestões para prescrição do exercício físico em pacientes com câncer durante e após o tratamento. É importante destacar que as intensidades e durações são diferentes entre os períodos de tratamento e pós-tratamento, e que estas sugestões não são fixas, podendo sofrer alterações de acordo com o estado clínico do paciente. Caso os treinamentos de força e aeróbio sejam combinados, as durações sugeridas devem considerar a divisão do tempo entre as duas modalidades. Por exemplo, após o tratamento a recomendação de duração é de sessenta minutos, distribuídos em trinta minutos para cada modalidade
Fonte: Nascimento EB, Leite RD, Prestes J. Câncer: benefícios do treinamento de força e aeróbio. R. da Educação Física/UEM Maringá 2011;